Dos móveis de casa para o pódio dos Jogos Olímpicos, Rebeca Andrade conta sua história

Criança arteira que se pendurava em beliches aos 9 meses de idade, a maior ginasta da história do esporte brasileiro é a nova personagem da série “Histórias pra morar”

Por Redação - 05/08/2024 às 10:48
Atualizado: 23/09/2024 às 16:15

A convidada da nossa série “Histórias pra morar” é uma pessoa que, pode-se dizer, realizou um sonho dourado de infância. E fez isso diante de espectadores de todo o planeta! Estamos falando de Rebeca Andrade, que não apenas é a primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha de ouro olímpica como também a primeira mulher a subir no pódio duas vezes em uma mesma edição de Jogos Olímpicos, em Tóquio 2020 – que na verdade foram disputados em 2021, por causa do adiamento por conta da pandemia.

Três anos depois, nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, Rebeca brilhou ainda mais e se tornou a maior atleta olímpica da história do esporte brasileiro, ao conquistar outras quatro medalhas: bronze por equipes, prata no individual geral e no salto, e o ouro no solo, derrotando a norte-americana Simone Biles, considerada por muitos a maior ginasta de todos os tempos.

Em um vídeo gravado para o QuintoAndar em 2022, a jovem que encantou o mundo conta como sua aptidão foi descoberta, ainda criança, quando se pendurava pelos móveis de sua casa em Guarulhos (SP).

“Enquanto minha mãe equilibrava a casa, o trabalho e os filhos… eu me equilibrava nos móveis de casa. Tinha uma beliche que eu subia, descia e me pendurava. Eu tinha só nove meses! Minha mãe ficava desesperada. Acho que já estava treinando e nem sabia! Agora, o que eu sabia era que aquele beliche era o melhor ‘brinquedo’ da casa. Hoje, eu continuo me pendurando, e minha mãe continua nervosa, igual. Mas tudo começou no beliche”, conta Rebeca.

Assista ao vídeo:

Maior conquista da ginástica brasileira

No dia 29 de julho de 2021, Rebeca Andrade entrou para a história em Tóquio ao conquistar a primeira medalha feminina da ginástica brasileira em Jogos Olímpicos, ao ficar com a prata no individual geral– prova que reúne os quatro aparelhos da modalidade: trave, barras assimétricas, salto e solo. Três dias depois, a jovem, então com 22 anos, tornou o feito ainda maior ao subir no lugar mais alto do pódio da prova de salto, conquistando o primeiro ouro da modalidade entre as mulheres. Poucos meses depois, em outubro, no Mundial da modalidade disputado também no Japão, na cidade de Kitakyushu, ela voltou a conquistar duas medalhas: ouro novamente no salto e prata nas barras assimétricas. 

Na oportunidade, as quatro medalhas já fizeram dela a maior ginasta feminina da história, por superar em termos de resultados outros grandes nomes da modalidade, como Daiane dos Santos, Daniele Hypólito e Jade Barbosa. Com o desempenho nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, Rebeca isolou-se ainda mais no posto de maior de todos os tempos na ginástica brasileira.

Mais que uma mãe, uma heroína

Filha da Dona Rosa, sua heroína, como costuma dizer, Rebeca é a quinta na “escadinha” de irmãos: são quatro mais velhos e três mais novos. Sendo duas mulheres, contando com ela, e seis homens. Com sacrifício, a mãe da ginasta e dos outros sete construiu uma linda família, trabalhando como empregada doméstica e cuidando para que nada faltasse aos oito filhos. 

“Minha mãe é a minha heroína, fez tudo por mim e pelos meus irmãos. Sempre cuidou de tudo e batalhou para que nada faltasse à nossa família. Meus irmãos mais velhos também ajudavam a cuidar de tudo. E quem era menor ajudava nas tarefas dentro de casa”, lembra Rebeca Andrade.

Casa cheia e muito amor

A ginasta não tem muita memória das casas onde morou quando pequena. Até porque, ainda criança com nove anos, foi morar fora, já para treinar em alto rendimento como uma das grandes promessas da ginástica artística brasileira.

“Eu lembro de pouca coisa, era muito pequena. Lembro que a gente mudou de casa algumas vezes, porque morávamos de aluguel. Numa casa tinha mais quartos, em outra menos, só lembro que a gente gostava de estar junto o tempo todo. Às vezes dormíamos bagunçados mesmo, às vezes um na cama do outro, era muito divertido”, conta a ginasta.

Rebeca Andrade: a atleta que se destacou na família

Dos oito irmãos, Rebeca não era a única que “treinava ginástica” em casa quando pequena. Mas apenas ela seguiu na carreira. 

“Eu fui a única que chegou ao alto rendimento. Outros três irmãos meus, Yago, Henrique e Igor, chegaram a treinar, mas acabaram não seguindo no esporte. Todos me apoiaram, me ajudaram e me incentivaram a seguir na ginástica. Sabiam o quanto eu amava o esporte e tinha o sonho de me tornar profissional. Todos torciam por mim, faziam tudo por mim, minha família era a minha equipe”, orgulha-se Rebeca.

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Apoio da mãe e dos irmãos

E o apoio, realmente era incondicional. Além das brincadeiras em casa, Rebeca deu seus primeiros passos na ginástica em um Programa de Iniciação Esportiva da prefeitura de Guarulhos. Ela tinha entre quatro e cinco anos de idade quando uma tia percebeu a aptidão da menina que se pendurava nos móveis e a levou para o esporte.

“Ela soube que havia vagas em um projeto da prefeitura e fui com ela para ver como era. Me apaixonei pela ginástica no primeiro dia. Minha família viu o quanto eu gostava de ir, minha mãe viu que era o que eu queria e, mesmo apesar da enorme distância de casa até o ginásio, mesmo com todas as dificuldades, eles sempre fizeram de tudo para me apoiar e para que não faltasse nada para que eu pudesse continuar no esporte”, lembra Rebeca.

Ainda pequena em Guarulhos, Rebeca contava muitas vezes com a ajuda dos irmãos mais velhos para chegar ao local de treinamento. 

“Nem sempre tínhamos dinheiro para ir de ônibus. Então foram muitas as vezes que meus irmãos, Emerson, Elisama e Roger me levaram andando até o ginásio. Era uma caminhada de quase duas horas. Depois, meu irmão comprou uma bicicleta para me levar aos treinos. Sempre foi com sacrifício, mas sempre foi com sorriso, com muito carinho. Se não fosse o esforço e a dedicação de todos, hoje eu não estaria aqui”, diz a campeã olímpica.

Treino perto de casa e estrutura no Rio de Janeiro

Hoje em dia, depois do sucesso, Rebeca conta com uma estrutura que nem de longe se compara com a que teve no início. Mora no Rio de Janeiro, perto do seu local de treinamento e pode se concentrar totalmente na preparação para a busca por mais medalhas e para seguir fazendo história dentro do esporte brasileiro. 

“Eu moro atualmente no Rio, bem pertinho do Centro de Treinamento do Time Brasil, na Barra da Tijuca. E morar perto é fundamental para mim, pois não pego trânsito e consigo estar em casa e no ginásio sempre rapidinho, sobrando mais tempo para descansar e fazer as minhas coisas. Tenho uma vida muito corrida, a programação de treinos é bem intensa, são dois treinamentos por dia, isso quando não estamos em período de competições e viagens, que fica ainda mais puxado. Mas sou feliz, estou muito feliz, sempre quis ser atleta, tenho uma equipe de apoio maravilhosa, meu clube, Flamengo, o COB, meus parceiros, todos estão sempre do meu lado, e isso me dá segurança e tranquilidade para me concentrar só no esporte e dar o meu melhor”, finaliza a campeã olímpica.

Histórias pra morar

Em nossa série “Histórias pra morar”, o QuintoAndar já contou como uma casa alugada numa praia em Niterói foi fundamental para que Milton Nascimento e seus parceiros Lô Borges e Beto Guedes, ao morarem juntos, criassem o disco “Clube da Esquina”, uma das obras-primas da música brasileira. 

Também mostrou como Thelma Assis, a Thelminha campeã do BBB 20, construiu boa parte de sua trajetória e conheceu o amor de sua vida em um ônibus que pegava em um ponto perto de casa. 

Hoje, você conheceu um pouco mais da história da ginasta Rebeca Andrade. Mas fique de olho porque você ainda verá outras histórias inspiradoras por aqui!



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